Uma multidão em Salto defendeu a vida e pediu o fim da lei da eutanásia.

por 14 de agosto de 2025

A Praça 33 de Salto foi palco de discursos contra a lei da eutanásia. Médicos, legisladores e representantes sociais defenderam a priorização da vida e a universalização dos cuidados paliativos, alertando para experiências negativas em outros países.

Em uma tarde repleta de emoção e debate social, a Praça 33 de Salto foi palco de uma das mobilizações mais contundentes dos últimos tempos na cidade. Após a marcha convocada por organizações e moradores que rejeitam a aprovação da lei da eutanásia, a deputada Natalia Piguina pegou o microfone e se dirigiu aos presentes, ainda segurando cartazes e entoando "vida e dignidade para todos".

Visivelmente emocionada, Piguina iniciou seu discurso lembrando a todos que "toda vida importa, mesmo — e especialmente — quando passa por momentos de maior fragilidade". Ela enfatizou que o caminho a seguir, em sua visão, não reside na legalização da eutanásia, mas sim no fortalecimento do acesso a cuidados paliativos de qualidade, com um estado atual e recursos adequados.

“Hoje, levantamos nossas vozes em defesa da vida, da dignidade e dos direitos já reconhecidos, mas que o Estado muitas vezes não consegue defender devidamente”, disse ele, olhando diretamente para as pessoas que assistiam atentamente do calçamento de pedras. “Não podemos permitir que a morte seja proposta como solução quando nem sequer garantimos que as pessoas possam viver com dignidade até o último momento.”

A deputada também apelou à responsabilidade de seus colegas no parlamento, enfatizando que o projeto de lei não é apenas mais um na agenda legislativa. "Não é qualquer voto em suas mãos: hoje vocês têm a decisão mais séria e irreversível que existe: a vida ou a morte de um ser humano", alertou.

Além das opiniões conflitantes em torno do tema, a marcha deixou claro que o debate sobre a eutanásia no Uruguai continuará ganhando espaço nas ruas, nos lares e, claro, no parlamento.

Por outro lado, e num tom tão firme quanto o do deputado Piguina, a representante do Grupo Pró-Vida e Família de Salto, Alexandra Bozzo, discursou na Praça 33 para deixar clara sua posição sobre o projeto de lei de eutanásia que está sendo discutido em nível nacional.

Com voz firme e evidente comprometimento pessoal, Bozzo alertou que a eutanásia, como está, significa "matar uma pessoa sob o pretexto de eliminar seu sofrimento". Para ela, trata-se de uma "falsa compaixão" que, longe de oferecer apoio, na verdade elimina aqueles que sofrem de uma doença irreversível.

“A verdadeira compaixão nos faz sentir empatia pela dor dos outros. Não se trata de eliminar a pessoa que sofre, mas de estar presente, acompanhá-la, cuidar dela”, sustentou. Ela criticou o projeto de lei por “classificar as pessoas entre aquelas que merecem viver e aquelas que não merecem” e alertou sobre o risco de considerar uma vida com baixa qualidade de vida ou dependência “como um obstáculo ou um fardo”.

Bozzo foi além, argumentando que "permitir a eutanásia é colocar um preço na vida humana" e deslocar a medicina de sua verdadeira missão: curar, aliviar e acompanhar os pacientes até um fim natural. "A eutanásia substitui a medicina porque, em vez de mitigar a dor, decide acabar com a vida", enfatizou.

Em sua mensagem, ele destacou o papel dos cuidados paliativos como uma resposta ética e humana ao sofrimento, oferecendo hidratação, nutrição, medicação, higiene e apoio emocional. "O que o paciente mais teme não é a dor física, mas o abandono. E é aí que a sociedade deve estar presente", acrescentou.

Ele também vinculou a discussão sobre a eutanásia a outros indicadores preocupantes sobre a vida no Uruguai: mencionou que, desde a aprovação da lei sobre interrupção voluntária da gravidez, em 2012, foram registrados mais de 106 mil abortos, que 2025 marcou o menor número de nascimentos desde 1888 e que o país está entre os que apresentam maior taxa de suicídio na América Latina, sendo o suicídio a principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.

Para Bozzo, esses dados refletem "uma tragédia social silenciosa" e uma crescente desvalorização da vida humana. "Uma sociedade que não se importa com seus membros mais fracos e doentes perde sua própria humanidade", afirmou.

Ao encerrar seu discurso, Bozzo apelou para sua fé católica e expressou que a vida "é um dom de Deus" e que "ninguém tem autoridade para tirar a vida de uma pessoa inocente, mesmo que peça". "Só Deus pode dar e tirar", concluiu, agradecendo aos presentes e recebendo fortes aplausos da multidão.

No mesmo evento realizado na Praça 33 de Salto, o neurologista Carlos Schroeder falou para alertar sobre o que ele acredita que seriam as consequências irreversíveis da aprovação da lei de eutanásia no Uruguai.

Schroeder explicou que faz parte de uma equipe multidisciplinar com profissionais de diferentes áreas — médicos, filósofos, enfermeiros, advogados — e de todos os partidos políticos, que têm trabalhado intensamente para disseminar, por todos os meios possíveis, os riscos que essa legislação pode representar para o país. "Não podemos, de forma alguma, aderir a essa lei, que marcará um antes e um depois", afirmou.

O médico lembrou que existem precedentes internacionais que devem servir de alerta. Citou os casos da Bélgica e da Holanda, onde a eutanásia foi aprovada anos atrás, e relatou que as práticas nesses países se multiplicaram exponencialmente, alcançando — segundo ele — pessoas que não a haviam solicitado, inclusive menores de idade. Citou como referência o livro "O Que a Decoração Esconde ", escrito por um grupo de médicos paliativos belgas que, decepcionados com a situação, deixaram de se concentrar no cuidado integral ao paciente como antes.

Com mais de quatro décadas de experiência médica — 43 anos como médico e 38 como neurologista — Schroeder afirmou ter acompanhado inúmeros pacientes terminais, bem como familiares e amigos em cuidados paliativos. Nesse sentido, ele enfatizou que o Uruguai já possui uma lei específica para cuidados paliativos, aprovada em 2023, que considera a verdadeira resposta para aliviar o sofrimento sem recorrer à eutanásia.

“O que os pacientes terminais pedem é alívio da dor, e hoje temos tratamentos que praticamente eliminam a necessidade de suportar dores intensas”, afirmou. Ele explicou que terapias altamente eficazes foram desenvolvidas nos últimos cinco anos e lamentou que, apesar da lei, o acesso aos cuidados paliativos não seja garantido a todos.

Ele comentou que foi somente neste ano que os pacientes do sistema público de Salta começaram a receber cuidados paliativos, enquanto o setor privado já os oferecia há muito tempo. "É uma pena, porque uma lei aprovada há quase dois anos deveria garantir esse direito a toda a população", enfatizou.

Para encerrar, Schroeder deixou uma mensagem clara: "A verdadeira solução para o paciente que sofre está na universalização dos cuidados paliativos, não na aprovação de uma lei que abra as portas para a eutanásia".

Encerrando a série de palestras na Praça 33 de Salto, Ignacio Suparo pegou o microfone e falou em tom direto e veemente contra o projeto de lei de eutanásia em discussão no parlamento.

“Estamos falando da maior coisa que todos nós desfrutamos, que é a vida”, começou ele, e alertou que, se o Uruguai aprovar essa lei, “terá fechado o círculo da morte” a que João Paulo II se referiu. Segundo Suparo, o país já vive essa “cultura da morte” desde a legalização do aborto e a promoção do que ele considera uma desvalorização da vida e da família. “Primeiro, matávamos antes do nascimento, agora querem matar depois do nascimento com a eutanásia”, afirmou.

Ele questionou a pressa parlamentar em aprovar a iniciativa, quando, segundo ele, "não há clamor popular exigindo isso". Afirmou que não se trata de uma reivindicação dos cidadãos, mas sim de "uma pauta vinda de cima, pressionando nossos legisladores a votarem em algo que não tem fundamento na realidade".

Com base no que está acontecendo em países que já aprovaram a eutanásia, Suparo alertou que o Uruguai poderia seguir o mesmo caminho. Ele observou que, dos 195 países do mundo, apenas seis ou sete legalizaram essa prática, enquanto os demais "sabem dos terríveis efeitos que ela pode ter na sociedade".

Ele explicou que, nesses países, surgiu o que chamou de "ladeira escorregadia": ao transformar a morte em um direito, o Estado a institucionaliza, financia e legitima, levando cada vez mais pessoas a solicitá-la. "Quando alguém se sente sozinho, doente ou como um fardo, começa a acreditar que a eutanásia é a saída", observou.

Outro efeito grave, segundo Suparo, é que a eutanásia desestimula o investimento em cuidados paliativos. Isso, afirmou, gera mais sofrimento não tratado e, consequentemente, mais pedidos de eutanásia. "É um ciclo vicioso", enfatizou, citando números como o aumento de 1.200% na Bélgica e o fato de que a eutanásia agora representa 5% das mortes anuais no Canadá.

Ele também se referiu ao conceito da "Janela de Overton", um processo pelo qual algo impensável se torna normalizado e se expande ao longo do tempo. "Hoje, nos países onde a eutanásia é aprovada, não só mais pessoas morrem por causa dela, como também aqueles que não deveriam morrer a solicitam: os pobres, os idosos, os solitários, os deprimidos e, embora seja difícil de acreditar, até crianças de apenas um ano de idade", denunciou.

Com aplausos prolongados, Suparo deixou clara sua mensagem final: "O Uruguai precisa de mais vida, mais nascimentos e políticas que fortaleçam a família. Não precisamos de mais mortes. Precisamos exatamente do oposto."

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