Ucrânia.- AMP2.- Putin propõe manter o leste da Ucrânia em troca do congelamento da ofensiva como condição de paz.

por 16 de agosto de 2025

O presidente russo permanece firme em suas exigências "fundamentais" restantes para negociar o cessar-fogo.

MADRI, 16 (EUROPA PRESS)

O presidente russo, Vladimir Putin, propôs manter toda a região de Donbass, que representa praticamente todo o leste da Ucrânia, em troca da interrupção de sua ofensiva na frente sul e da interrupção de novos ataques no resto do país, como uma das condições para aceitar um possível acordo de paz com o governo ucraniano.

Segundo fontes próximas à cúpula de Putin com o presidente americano Donald Trump, no Alasca, na última sexta-feira, no momento em que as forças ucranianas estavam se retirando da região — que inclui as províncias de Donetsk e Lugansk, parcialmente incorporadas a Moscou — o presidente russo ordenou a interrupção imediata da ofensiva nas frentes de Zaporizhia e Kherson, no sul do país, segundo o Financial Times, NBC e Bloomberg.

Essas mesmas fontes indicam que Putin prometeu interromper qualquer outro tipo de ataque contra a Ucrânia, como os ataques com drones e mísseis de cruzeiro que ele realiza rotineiramente contra o centro e o oeste do país.

Putin transmitiu essa mensagem a Trump ontem, que passou as horas seguintes comunicando a oferta aos líderes europeus, no que o presidente russo, ainda segundo essas fontes, entende como uma "concessão territorial". No entanto, o presidente também alertou seu homólogo americano de que não abandonou o restante das chamadas condições "fundamentais" para o fim definitivo do conflito.

Moscou, vale lembrar, exige que a Ucrânia assuma o status permanente de potência não nuclear, independente da OTAN, com garantias totais para a comunidade de língua russa e, acima de tudo, o reconhecimento do que Moscou chama de "a nova realidade territorial" representada pelos territórios ucranianos que incorporou, muitos dos quais estão no Donbass, assim como na Crimeia.

Para dar outro exemplo, entre as condições secundárias que Putin teria proposto, segundo fontes do New York Times, está a adoção do russo como língua cooficial na Ucrânia, algo nem remotamente contemplado pela Constituição ucraniana de 1996, que sequer permite um sistema bilíngue, embora o russo seja comumente usado no Donbass e na Crimeia. Putin também solicitou que as igrejas ortodoxas russas cumpram sua missão normalmente em território ucraniano.

Vale lembrar também que as forças russas controlam aproximadamente 70% de Donetsk, mas a cadeia de cidades no oeste da região permanece sob controle ucraniano e é um cinturão defensivo crucial, cuja rendição deixaria o país extremamente vulnerável em caso de uma nova ofensiva. Quanto a Luhansk, as forças russas controlam praticamente toda a região, exceto uma pequena porção no extremo oeste.

Em comentários anônimos ao site de notícias americano Axios, algumas autoridades americanas presentes na reunião tiveram a impressão de que Putin estava disposto a negociar a retirada de suas forças das regiões de Sumi e Kharkiv, no norte da Ucrânia, onde controlam uma área quase marginal em comparação ao Donbass.

GARANTIAS

"Garantias de segurança" foram outro tópico de destaque na cúpula do Alasca. Nesse sentido, Trump disse aos líderes europeus que Putin está, em princípio, disposto a aceitar algum tipo de solução internacional para proteger a Ucrânia contra uma nova ofensiva russa, desde que não envolva a presença da OTAN.

Este cenário coincide com uma estimativa feita por Trump na última sexta-feira, antes da cúpula do Alasca. Em comentários à imprensa americana durante o voo para Anchorage, o presidente americano cogitou a possibilidade de mobilizar uma força multinacional "com a Europa e outros países", mas nunca "na forma da OTAN", opção que o presidente americano já descartou sumariamente.

"Há coisas que nunca acontecerão, mas, no que diz respeito à Europa, essa possibilidade existe", concluiu. A possível incorporação de forças americanas a esse contingente permanece incerta, mas o chanceler alemão, Friedrich Merz, disse à ZDF neste domingo que "a boa notícia é que os Estados Unidos" estão, em princípio, "dispostos a participar dessas garantias de segurança, sem deixá-las exclusivamente nas mãos dos europeus".

Trump transmitirá tudo isso ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em sua reunião crucial na Casa Branca na segunda-feira. Segundo fontes próximas ao New York Times, Trump estendeu o convite a vários "líderes europeus", começando pelos chefes de Estado e de governo da chamada "coalizão dos dispostos", para participar de uma missão de paz para a Ucrânia, principalmente o chanceler alemão Friedrich Merz, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer.

Outra possibilidade é a levantada por fontes do portal americano Politico, que reduz o possível mediador europeu a uma única figura: o presidente finlandês Alexander Stubb, um dos interlocutores favoritos de Trump — fanático por golfe, como o presidente americano — e líder de um país líder no projeto de quebra-gelos, essenciais para a navegação no Ártico, um dos grandes objetivos econômicos da Administração Trump.

Fontes do Axios também indicam que Trump quer finalizar a hipotética cúpula trilateral nos próximos dias, que o reuniria com Zelensky e Putin, desta vez todos juntos, com 22 de agosto como a primeira opção, embora nenhum possível local para as negociações tenha sido considerado até agora.

Zelensky, que não comentou formalmente essas reportagens, nem a Casa Branca, o Kremlin ou a diplomacia europeia, sempre se manifestou firmemente contra a cessão de territórios à Rússia como parte de um possível acordo de paz. No entanto, logo após a divulgação dessas reportagens, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia publicou um mosaico de imagens da destruição em várias cidades do leste do país, em decorrência dos bombardeios russos.

"Todas essas cidades estão localizadas nas regiões de Donetsk e Luhansk, na Ucrânia, o chamado Donbass. Todas essas cidades já foram reduzidas a cinzas pelo exército russo", informou o Ministério das Relações Exteriores, sob fotos de cidades como Soledar, Marinka e Vuhledar.

"Todas essas cidades já foram povoadas por ucranianos: crianças, famílias. Ucranianos que criminosos de guerra russos mataram, capturaram, realocaram à força ou expulsaram de suas casas", acrescentou o ministério. "A guerra da Rússia não é apenas contra o território da Ucrânia, mas contra o próprio direito dos ucranianos de existir."

"Os Estados Unidos, a União Europeia e outros parceiros têm força para deter a Rússia. Ações firmes e coordenadas, baseadas na justiça, na soberania da Ucrânia e na integridade territorial, levarão a uma paz justa e duradoura", concluiu o Ministério.

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