Quem é Pablo Laurta? Do ativismo antifeminista ao triplo assassinato em Córdoba

por 14 de outubro de 2025
Pablo Laurta em conferência parlamentar como porta-voz de Varones Unidos, antes do triplo homicídio em Córdoba.
Pablo Laurta no Parlamento Uruguaio durante uma conferência organizada pela Varones Unidos, antes de ser acusado do triplo homicídio em Córdoba.

Pablo Laurta: do ativismo antifeminista no Uruguai ao triplo assassinato em Córdoba

O nome de Pablo Laurta voltou a repercutir na mídia do Uruguai e da Argentina, desta vez ligado a um dos episódios mais chocantes do ano: o triplo homicídio em Córdoba. O uruguaio foi preso após ser acusado de assassinar sua ex-companheira Luna Giardina, sua ex-sogra Mariel Zamudio e sequestrar seu filho Pedro, com quem tentou cruzar a fronteira de barco para o Uruguai.

No entanto, sua vida pública não começou assim. Laurta já era conhecido na esfera política e midiática por seu ativismo no Varones Unidos, um grupo que promovia o que chamavam de "masculinidade positiva" e se opunha abertamente às leis de gênero em vigor no Uruguai.

Um perfil que já era desconfortável

Durante anos, Laurta se apresentou como porta-voz do Varones Unidos, um grupo que defendia a inclusão de uma "perspectiva masculina" nos debates sobre violência e discriminação. Em seu site, o grupo citava casos como o do jogador de futebol Mauro Icardi para ilustrar o que considerava "discriminação judicial contra homens".

A retórica de Laurta incomodava muita gente. Em suas aparições públicas, ele frequentemente questionava a abordagem das políticas de gênero e alertava contra o que chamava de "criminalização dos homens". Aparecia com frequência na mídia uruguaia, e seu tom provocativo o tornava uma figura controversa.

O caso Pedro Laurta: antes do crime

Uma das histórias mais divulgadas pelo Varones Unidos foi a do filho de Laurta, Pedro, que completou seis anos nesta terça-feira. Em uma publicação anterior aos crimes, o grupo denunciou o que chamou de "sequestro internacional de uma criança do Uruguai em meio a ameaças e extorsão", culpando o "sistema de justiça feminista de Córdoba" por legitimar a situação.

O que ninguém previu foi que, meses depois, o próprio pai seria acusado de assassinar a mãe e a avó do menino e de tentar fugir com ele pelo Rio Uruguai em um barco.

Das conferências no Parlamento a uma cela de prisão em Córdoba

Em abril de 2022, Laurta participou de uma conferência no Palácio Legislativo do Uruguai. Ele foi apresentado como um "empresário e especialista em gestão de mídias digitais". Seu discurso começou com uma piada sobre sua aparência: "Por que eu deveria prestar atenção no que esse sujeito peludo, barbudo e com cara de Talibã tem a dizer?", perguntou, provocando algumas risadas tímidas na sala.

O encontro foi organizado pelo Varones Unidos e contou com a presença da então deputada Elsa Capillera. Em sua apresentação, Laurta criticou o que definiu como uma "redefinição neomarxista" da democracia. Segundo ele, novas lutas sociais substituíram a dicotomia clássica entre proletários e burguesia por lutas mais identitárias: "mulheres oprimidas e homens opressores", "pessoas trans oprimidas e opressores de outros", "mulheres gordas oprimidas e corpos hegemônicos opressores", chegando até mesmo a "animais oprimidos e humanos opressores".

Rejeição da lei sobre violência de gênero

Em dezembro de 2017, Laurta foi entrevistado no programa "Desayunos Informales", do Canal 12. Lá, ele se manifestou contra o projeto de lei abrangente sobre violência de gênero, argumentando que ele violava o princípio da igualdade perante a lei. "Este projeto de lei define duas leis diferentes para o mesmo crime, dependendo se é cometido por um homem ou uma mulher", afirmou.

Sua postura gerou rejeição de amplos setores da sociedade, mas também encontrou apoio entre grupos que questionavam a perspectiva de gênero na legislação.

Rota fluvial entre Salto e Puerto Yeruá usada por Pablo Laurta para entrar na Argentina antes do triplo assassinato em Córdoba.
Laurta atravessou o Rio Uruguai de caiaque de Salto até Puerto Yeruá, evitando os controles de fronteira antes de cometer o triplo assassinato em Córdoba.

Um resultado brutal

Hoje, Laurta permanece preso em uma penitenciária de Córdoba, aguardando julgamento. O caso chocou ambos os lados do rio, não apenas pela violência do crime, mas também pela visibilidade pública do réu. De porta-voz parlamentar a protagonista de uma tragédia familiar, sua história levanta questões sobre os discursos que circulam em torno de gênero, justiça e radicalização.

Operação policial em Gualeguaychú onde Pablo Laurta foi preso após o triplo homicídio em Córdoba e a tentativa de fuga com seu filho.
A operação em Gualeguaychú levou à prisão de Pablo Laurta quando ele tentava retornar ao Uruguai com seu filho após o triplo assassinato em Córdoba.

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