Pablo Laurta: do ativismo antifeminista no Uruguai ao triplo assassinato em Córdoba
O nome de Pablo Laurta voltou a repercutir na mídia do Uruguai e da Argentina, desta vez ligado a um dos episódios mais chocantes do ano: o triplo homicídio em Córdoba. O uruguaio foi preso após ser acusado de assassinar sua ex-companheira Luna Giardina, sua ex-sogra Mariel Zamudio e sequestrar seu filho Pedro, com quem tentou cruzar a fronteira de barco para o Uruguai.
No entanto, sua vida pública não começou assim. Laurta já era conhecido na esfera política e midiática por seu ativismo no Varones Unidos, um grupo que promovia o que chamavam de "masculinidade positiva" e se opunha abertamente às leis de gênero em vigor no Uruguai.
Um perfil que já era desconfortável
Durante anos, Laurta se apresentou como porta-voz do Varones Unidos, um grupo que defendia a inclusão de uma "perspectiva masculina" nos debates sobre violência e discriminação. Em seu site, o grupo citava casos como o do jogador de futebol Mauro Icardi para ilustrar o que considerava "discriminação judicial contra homens".
A retórica de Laurta incomodava muita gente. Em suas aparições públicas, ele frequentemente questionava a abordagem das políticas de gênero e alertava contra o que chamava de "criminalização dos homens". Aparecia com frequência na mídia uruguaia, e seu tom provocativo o tornava uma figura controversa.
O caso Pedro Laurta: antes do crime
Uma das histórias mais divulgadas pelo Varones Unidos foi a do filho de Laurta, Pedro, que completou seis anos nesta terça-feira. Em uma publicação anterior aos crimes, o grupo denunciou o que chamou de "sequestro internacional de uma criança do Uruguai em meio a ameaças e extorsão", culpando o "sistema de justiça feminista de Córdoba" por legitimar a situação.
O que ninguém previu foi que, meses depois, o próprio pai seria acusado de assassinar a mãe e a avó do menino e de tentar fugir com ele pelo Rio Uruguai em um barco.
Das conferências no Parlamento a uma cela de prisão em Córdoba
Em abril de 2022, Laurta participou de uma conferência no Palácio Legislativo do Uruguai. Ele foi apresentado como um "empresário e especialista em gestão de mídias digitais". Seu discurso começou com uma piada sobre sua aparência: "Por que eu deveria prestar atenção no que esse sujeito peludo, barbudo e com cara de Talibã tem a dizer?", perguntou, provocando algumas risadas tímidas na sala.
O encontro foi organizado pelo Varones Unidos e contou com a presença da então deputada Elsa Capillera. Em sua apresentação, Laurta criticou o que definiu como uma "redefinição neomarxista" da democracia. Segundo ele, novas lutas sociais substituíram a dicotomia clássica entre proletários e burguesia por lutas mais identitárias: "mulheres oprimidas e homens opressores", "pessoas trans oprimidas e opressores de outros", "mulheres gordas oprimidas e corpos hegemônicos opressores", chegando até mesmo a "animais oprimidos e humanos opressores".
Rejeição da lei sobre violência de gênero
Em dezembro de 2017, Laurta foi entrevistado no programa "Desayunos Informales", do Canal 12. Lá, ele se manifestou contra o projeto de lei abrangente sobre violência de gênero, argumentando que ele violava o princípio da igualdade perante a lei. "Este projeto de lei define duas leis diferentes para o mesmo crime, dependendo se é cometido por um homem ou uma mulher", afirmou.
Sua postura gerou rejeição de amplos setores da sociedade, mas também encontrou apoio entre grupos que questionavam a perspectiva de gênero na legislação.

Um resultado brutal
Hoje, Laurta permanece preso em uma penitenciária de Córdoba, aguardando julgamento. O caso chocou ambos os lados do rio, não apenas pela violência do crime, mas também pela visibilidade pública do réu. De porta-voz parlamentar a protagonista de uma tragédia familiar, sua história levanta questões sobre os discursos que circulam em torno de gênero, justiça e radicalização.
