Tráfico de drogas no Uruguai segundo Salle: violência, poder econômico e política

por 29 de setembro de 2025

A análise do advogado Gustavo Salle destacou mais uma vez a gravidade do tráfico de drogas no Uruguai após o ataque à casa da promotora Mónica Ferrero. Para Salle, o incidente foi uma mensagem mafiosa dirigida às instituições e um sinal de que a violência ligada ao crime organizado está aumentando.

Ele explicou que não se tratava de uma tentativa de homicídio, mas sim de um alerta claro para gerar medo. "O narcotráfico no Uruguai opera com uma lógica mafiosa: intimida, mas nem sempre elimina", disse ele, referindo-se ao tipo de ataque.

Tráfico de drogas no Uruguai e instituições vulneráveis

Salle enfatizou que o tráfico de drogas no Uruguai está inserido em um contexto de exclusão social e pobreza, o que facilita o recrutamento de jovens em bairros periféricos. Ele também questionou o desenho institucional da Procuradoria-Geral da República, que descreveu como inconstitucional por centralizar poderes em um único órgão, o que expõe autoridades e enfraquece o combate ao crime.

O advogado também enfatizou os laços internacionais. Ele afirmou que o tráfico de drogas movimenta quase US$ 400 bilhões no sistema financeiro global, tornando seu combate um desafio que vai além do âmbito nacional. " Bancos e grandes interesses econômicos se alimentam desse dinheiro", alertou.

No plano político, acusou as autoridades de demonstrarem "hipocrisia" ao reagir apenas quando a violência atinge figuras poderosas, enquanto as vítimas das comunidades marginalizadas permanecem invisíveis. Por isso, exigiu a renúncia do Ministro do Interior e do Subsecretário da Presidência, a quem culpou pela falta de respostas eficazes e por possíveis vínculos com defesas relacionadas ao narcotráfico.

Risco de um narco-estado

Em seu discurso, Salle alertou que o Uruguai corre o risco de se tornar um "narcoestado". Em sua visão, o atual modelo econômico e político, baseado na desigualdade e em instituições frágeis, abre portas para o crime organizado.

"Enquanto medidas estruturais não forem tomadas, a violência aumentará e a democracia ficará comprometida", afirmou. Para ele, o combate ao narcotráfico no Uruguai envolve não apenas o fortalecimento dos recursos policiais e judiciais, mas também a promoção de profundas mudanças sociais e econômicas.

O advogado concluiu sua análise enfatizando que a discussão deve ir além das declarações oficiais. “Este é um problema estrutural. São necessárias políticas estatais firmes e corajosas para garantir que o Uruguai não seja submetido à lógica do narcotráfico”, concluiu.

Outro aspecto destacado pelos especialistas é a relação entre o tráfico de drogas e a economia informal. Em diversos bairros do país, biscates e a correria do dia a dia coexistem com atividades ilícitas que acabam se tornando fonte de renda para muitas famílias. Esse fenômeno cria um dilema social: enquanto alguns jovens encontram no trabalho precário uma forma de sobreviver, outros acabam vinculados a redes criminosas que oferecem mais dinheiro rapidamente, ainda que a um alto custo pessoal e comunitário.

Além disso, diversos relatórios internacionais alertam que o Uruguai , devido à sua localização estratégica no Atlântico Sul, tornou-se um ponto de trânsito para carregamentos de cocaína com destino à Europa e à África. O porto de Montevidéu e a extensa fronteira seca com o Brasil representam desafios constantes para as autoridades, que devem reforçar os controles sem afetar o comércio legítimo.

Nesse contexto, organizações sociais reivindicam políticas públicas que combinem segurança e inclusão. Elas ressaltam que, sem um plano abrangente para combater a pobreza estrutural, será difícil deter a disseminação do tráfico de drogas. A discussão então segue para o Parlamento, onde são questionadas as visões sobre como equilibrar repressão e prevenção.

Em suma, o narcotráfico no Uruguai continua sendo um desafio estrutural.

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