Conflito no Porto de Montevidéu: crise sindical ou conflito político interno entre o MPP e o Partido Socialista?
O conflito no Porto de Montevidéu se configura como um dos episódios mais tensos do cenário político e sindical do Uruguai em 2025. O que começou como uma disputa trabalhista entre o sindicato portuário e a empresa Terminal Cuenca del Plata (TCP) desembocou em acusações entre setores da Frente Ampla e senadores do Partido Nacional, que atribuem o conflito a uma disputa interna entre o Movimento de Participação Popular (MPP) e o Partido Socialista (PS).
Origem do conflito sindical no TCP
O conflito começou com a implementação do sistema operacional Navis N4 no Terminal de Cuenca del Plata, operado principalmente pela empresa belga Katoen Natie. O sindicato portuário denunciou que o novo software automatiza tarefas que podem comprometer empregos.
A ação sindical incluiu uma greve que paralisou mais de 70% das operações do porto, gerando milhões em prejuízos para exportadores e transportadores.
Implementação do software Navis N4
O Navis N4 substituiu um sistema usado desde 2001. Segundo a TCP, todos os funcionários receberam três anos de treinamento para se adaptar ao novo software. A empresa afirma que a mudança não afeta a carga de trabalho nem envolve demissões.
No entanto, o sindicato defende que a automação deve permitir a redução da semana de trabalho para seis horas , mantendo o salário correspondente de oito horas.
Posição sindical e reivindicações trabalhistas
O Sindicato Único dos Portos e Filiais Afins (SUPRA) mantém sua posição: a greve não será suspensa sem garantias. Eles rejeitaram a Ministério do Trabalho de negociar enquanto o terminal estiver em operação e estudam estender as medidas a outros portos do país.
O sindicato também foi criticado por citar uma conversa com o ChatGPT como argumento para melhorias de produtividade, o que foi ridicularizado pelo TCP.
Acusações políticas: Blancos x Frente Ampla
Senadores do Partido Nacional, como Javier García e Sebastián Da Silva, sustentam que o conflito tem conotações políticas. García chamou o sindicato de "irracional" e o acusou de "tomar conta do porto".
Da Silva foi mais direto: "Esta é uma confusão entre os Tupas e os Socialistas", referindo-se ao MPP e ao PS. Ele observou que houve mudanças internas na Administração Nacional dos Portos (ANP) que refletem uma luta pelo controle institucional.
Reação do Partido Socialista
O senador Gustavo González, do Partido Socialista (PS), negou que o conflito tenha cunho partidário. Afirmou que trabalhou para convocar ambos os partidos à Comissão de Assuntos Trabalhistas do Senado e descreveu as declarações que deslegitimam as reivindicações do sindicato como "desrespeitosas".
Sua frase mais ressonante foi: "Que não sonhem com contradições na esquerda, que resolvam seus problemas, que são muitos e muito grandes."
Movimentos do MPP no ANP
Segundo relatos da imprensa, o MPP conseguiu destituir o PS de cargos-chave no Porto de Montevidéu em menos de 90 dias. A ministra dos Transportes, Lucía Etcheverry, solicitou a renúncia da vice-presidente da ANP, Alejandra Koch, por ter votado a favor de uma promoção para seu marido socialista.
Etcheverry promoveu a nomeação de Tany Mendiondo como vice-presidente e manteve Pablo Genta como presidente, consolidando a hegemonia do MPP na ANP.
Impacto econômico e comercial
A greve do TCP afeta diretamente o comércio exterior uruguaio. Exportadores relatam perdas diárias de até US$ 20 milhões, enquanto transportadores perdem quase US$ 500.000 por dia.
A situação preocupa o Poder Executivo, que convocou reuniões urgentes com os ministros do Trabalho e dos Transportes para tentar resolver o conflito.
O que está por trás do conflito portuário?
Para além das reivindicações trabalhistas, o conflito no Porto de Montevidéu revela tensões políticas internas e disputas por controle institucional. A combinação de sindicalismo, automação tecnológica e lutas partidárias torna este episódio um caso emblemático de como interesses trabalhistas e políticos se entrelaçam no Uruguai .
Você acha que o conflito no porto se deve a causas sindicais legítimas ou a disputas políticas internas entre setores da Frente Ampla?