A Comissão de Transparência e Ética Pública (Jutep) está analisando se há alguma incompatibilidade entre Álvaro Danza, médico clínico e professor do 5º ano, que preside a Administração Estatal de Serviços de Saúde (ASSE) e trabalha simultaneamente para três seguradoras privadas de saúde. A questão desencadeou um confronto político imediato: enquanto os Blancos e os Colorados exigiam sua renúncia, o governo cerrou fileiras em sua defesa.
O caso chegou ao conhecimento da Jutep após uma denúncia de um particular. A vice-presidente da agência explicou que o assunto deve ser mantido em sigilo até que o conselho se pronuncie. No entanto, a presidente Ana Ferraris esclareceu que não há prazos definidos, o que deixa o assunto em aberto e aumenta a incerteza.
Um duplo papel questionado
Danza, além de liderar a ASSE — que conta com quase 1,5 milhão de usuários —, continua prestando atendimento na Associação Espanhola, na Associação Médica Uruguaia e no CAMS Soriano. Ele também chefia a Unidade Médica Clínica Acadêmica 2 do Hospital Pasteur. A questão recorrente é se é compatível para o presidente da maior operadora de saúde pública manter uma atividade privada com interesses interseccionais.
Quando seu nome foi considerado pelo governo para presidir a ASSE, Danza encomendou um relatório jurídico ao escritório Delpiazzo. Esse parecer, emitido em dezembro, descartou quaisquer incompatibilidades, mas sugeriu a consulta à Jutep. Essa medida nunca se concretizou, e foi somente após sua nomeação que a agência foi solicitada a emitir um comunicado.
Crítica da oposição
O deputado colorado Felipe Schipani foi categórico: "Tenho pouca expectativa em relação à decisão da Jutep, visto que se trata de um órgão político". Ele afirmou que é difícil acreditar que a decisão vá contra a posição já expressa pela ministra da Saúde, Cristina Lustemberg, e pelo presidente Yamandú Orsi, ambos apoiadores de Danza.
O Partido Colorado exigiu diretamente a renúncia imediata do líder. Enquanto isso, o Partido Nacional criticou a atual composição do Jutep (Jutep), que conta com dois membros pró-governo e ainda carece de um terceiro membro da oposição. Para o deputado Amin Niffouri, "solicitar um relatório nessas condições não oferece as garantias necessárias".
Suspeitas sobre a independência
Niffouri acrescentou que um relatório da Jutep com apenas dois membros pró-governo seria pouco mais do que "uma opinião governamental" e observou que a opinião de Delpiazzo foi solicitada pela pessoa envolvida. A falta de independência parece ser um elemento central na discussão.
O deputado do Partido Branco alertou que seu partido está analisando medidas parlamentares e que relatórios já foram solicitados a especialistas constitucionais renomados. Uma das primeiras ações poderia ser convocar o Ministro da Saúde ao Parlamento para prestar esclarecimentos.
O partido no poder se entrincheira
Da Frente Ampla, a estratégia era blindar Danza. O deputado Federico Preve respondeu duramente aos brancos: "Não ameacem convocar a ministra, convoquem-na e pronto, senão é pura chicana." Essa declaração expôs o clima tenso em torno da questão.
Por outro lado, o senador Martín Lema aumentou a pressão ao afirmar que "o presidente da ASSE não pode trabalhar meio período". Segundo os Blancos, é contraditório exigir um aumento nos salários da diretoria da ASSE devido à dedicação exigida, enquanto Danza continua trabalhando em regime de jornada parcial para prestadores privados.
Uma definição que não chega
O resultado agora depende de Jutep, embora a agência não tenha prazos definidos. Essa falta de clareza alimenta a tensão política e a sensação de que o caso pode se arrastar indefinidamente. Enquanto isso, Danza continua em seu duplo papel, com o apoio do Poder Executivo e a desconfiança da oposição.
A controvérsia revela mais uma vez a dificuldade do sistema político uruguaio em garantir total transparência em posições-chave. Para alguns, o caso Danza é um exemplo de incompatibilidade evidente; para outros, um ataque com motivação partidária. A verdade é que, até que haja uma resolução clara da Jutep (Comissão Nacional de Saúde Pública), a questão continuará a dominar a agenda política e de saúde do país.