Milhares de venezuelanos ingressam nas forças armadas em meio a tensões com os Estados Unidos.

por 24 de agosto de 2025

Em Caracas e outras cidades venezuelanas, milhares de apoiadores chavistas e funcionários públicos se reuniram neste fim de semana em praças e quartéis para se juntar à Milícia Nacional Bolivariana (MNB). O governo de Nicolás Maduro organizou esta campanha de registro como uma resposta direta ao envio de navios de guerra americanos para águas caribenhas, além da crescente pressão política e judicial de Washington.

O registro ocorreu na Praça Bolívar, em Caracas, a poucos metros do Palácio de Miraflores. Longas filas de cidadãos aguardavam para se alistar na milícia, uma força criada em 2009 pelo ex-presidente Hugo Chávez e oficialmente incorporada às Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) em 2020.

Vozes da fileira

Entre os que se uniram à convocação estava Jorge Navas, membro do coletivo Resistência e Rebelião, que explicou à EFE que, em sua opinião, o país vive o que definiu como uma "guerra cognitiva". Para ele, a situação exige que o povo se organize e esteja preparado para o caso de uma guerra. "Este é um povo que entende que existe um inimigo comum aqui e que deve se preparar para defender o que é legítimo", afirmou.

Outra participante foi Aidee Romero, chefe da Unidade de Batalha de Hugo Chávez (UBCH), que insistiu que a defesa do país não pode se limitar a uma questão partidária. "Pedimos a todos os venezuelanos que amam sua pátria que se juntem a nós, independentemente de pensarem diferente de nós. Não podemos permitir que o país seja manchado. Espero que não seja com balas, mas a independência deve ser defendida", afirmou.

A prefeita de Caracas, Carmen Meléndez, também compareceu ao evento, juntamente com autoridades locais. Segundo imagens transmitidas pela televisão estatal, cenas semelhantes foram vistas em estados como Lara, Bolívar, Táchira, Trujillo, Sucre e La Guaira, onde também havia longas filas de cidadãos ansiosos para se registrar.

Maduro ativa 4,5 milhões de milicianos

A operação de registro faz parte das ordens emitidas dias atrás por Maduro, que ordenou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos em todo o país. A medida foi uma reação ao anúncio dos Estados Unidos, que aumentou a recompensa por informações que levem à sua captura para US$ 50 milhões. Já a recompensa para o ministro do Interior, Diosdado Cabello, chega a US$ 25 milhões.

Esse aumento nas recompensas tornou-se provocativamente visível na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela. Na cidade de Villa del Rosario (Norte de Santander), um outdoor com fotos de Maduro e Cabello foi exibido, oferecendo essas quantias em troca de informações que levassem à prisão deles. A estrutura foi desmontada horas depois por ordem das autoridades locais.

Pressão de Washington

A tensão aumentou após o anúncio do envio de um esquadrão anfíbio americano composto pelos navios USS San Antonio, USS Iwo Jima e USS Fort Lauderdale, com cerca de 4.500 militares a bordo. Segundo fontes militares citadas pela Reuters, os navios poderiam chegar às águas próximas à Venezuela em poucos dias.

O governo dos Estados Unidos argumenta que a operação visa coibir o que chama de "organizações narcoterroristas". A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou: "Estamos preparados para usar todo o nosso poder para interromper o fluxo de drogas para o nosso país".

Desde 2020, Washington acusa Maduro e altos funcionários chavistas de liderar o chamado Cartel dos Sóis, uma suposta rede de narcotráfico composta por oficiais militares de alta patente. Caracas rejeita essas acusações e afirma que elas fazem parte de uma estratégia de desestabilização e "guerra híbrida" comandada pelos Estados Unidos.

Um apelo à calma

Apesar do clima tenso, o Ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, pediu a todos que evitassem o alarmismo. "Ninguém deve ficar nervoso. Esta não é uma mobilização nacional obrigatória. É um registro voluntário em um órgão poderoso criado pela Revolução Bolivariana", afirmou.

Padrino López enfatizou que a milícia já tem presença em todo o país e explicou que o processo de registro, inicialmente previsto para o fim de semana, será repetido ao longo de vários sábados e domingos com o objetivo de fortalecer a estrutura civil-militar que dá suporte à FANB.

A oposição procura reorganizar-se

Enquanto o partido governista demonstrava sua capacidade de mobilização nas ruas, setores da oposição trabalhavam em sua própria estratégia política. A nova plataforma União e Mudança, que reúne líderes como Henrique Capriles e Tomás Guanipa, defendia um projeto compartilhado baseado no pluralismo, na alternância de poder e na descentralização.

Em comunicado, o grupo afirmou que o país precisa de uma solução democrática e pacífica para a crise, defendendo os direitos humanos e a igualdade de oportunidades sem discriminação. O surgimento desta plataforma coincide com as constantes alegações de fraude pela Plataforma Democrática Unitária (PUD), que rejeita os resultados das eleições presidenciais do ano passado, nas quais Maduro foi declarado vencedor, superando o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.

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