Imposto sobre agrotóxicos : esta é a proposta que gerou intensa polêmica no Uruguai em setembro de 2025. A iniciativa, promovida pela Frente Ampla, busca aplicar um novo imposto sobre a importação e venda de produtos agrotóxicos, como fertilizantes, pesticidas e herbicidas. Este projeto gerou um intenso debate nacional entre aqueles que defendem a necessidade de proteger o meio ambiente e os setores agroindustriais que temem por sua competitividade.
Em que consiste a proposta?
O projeto de lei, patrocinado pela Frente Ampla, propõe a criação de um novo imposto sobre a importação e venda de agrotóxicos no país. O imposto afetaria uma ampla gama de produtos utilizados na agricultura moderna, como fertilizantes, herbicidas, pesticidas e outros insumos químicos que atualmente são essenciais para o desempenho do setor agrícola.
De acordo com os legisladores que patrocinaram a medida, esse imposto teria um duplo propósito: por um lado, geraria receita tributária adicional que poderia ser usada para programas de restauração ambiental ou promoção de práticas agrícolas sustentáveis; e, por outro, desencorajaria o uso excessivo ou irresponsável de agroquímicos, promovendo alternativas mais ecológicas.
A principal justificativa se baseia na necessidade de incorporar o "custo ambiental" dos agroquímicos ao seu preço de mercado. Eles argumentam que, hoje, os efeitos negativos que esses produtos têm sobre o solo, a água e a biodiversidade são absorvidos pela sociedade como um todo, o que consideram injusto.
Rejeição do setor agrícola
Como esperado, o setor agrícola reagiu com forte oposição. Associações rurais, produtores e representantes do setor agrícola expressaram preocupação com o impacto econômico que esse novo imposto poderia ter, especialmente sobre os pequenos e médios produtores. O Uruguai depende fortemente de suas exportações agrícolas – como soja, carne, arroz e laticínios – e muitos temem que o novo imposto afete a competitividade do país nos mercados internacionais.
A Associação Rural do Uruguai (ARU) e a União Rural do Uruguai (URU) emitiram comunicados denunciando a proposta como uma medida "ideológica" sem respaldo técnico. Argumentam que os agrotóxicos não são um luxo, mas uma necessidade, e que seu uso controlado é fundamental para manter os níveis atuais de produtividade.
Eles também alertam que preços mais altos para esses produtos podem incentivar práticas ilegais, como a importação de insumos sem controle sanitário ou o uso de substâncias não autorizadas, o que agravaria os riscos à saúde e ao meio ambiente.
Argumentos a favor: saúde e meio ambiente
Por outro lado, diversas organizações ambientais e alguns acadêmicos manifestaram seu apoio ao projeto. Eles ressaltam que o uso extensivo de agroquímicos tem tido um impacto preocupante nos recursos naturais, especialmente na qualidade da água e na saúde do solo. Alertam também para os riscos à saúde humana, tanto para quem trabalha no campo quanto para as comunidades próximas às áreas de cultivo.
Os defensores do imposto argumentam que o atual sistema de produção externaliza seus custos ambientais, o que, em última análise, gera danos que são suportados por toda a sociedade. Incluir esses custos no preço do produto por meio de um imposto promoveria uma transição para modelos de produção mais sustentáveis.
Além disso, alguns especialistas apontam que a receita gerada pelo imposto poderia ser usada para financiar pesquisas sobre agricultura orgânica, subsídios para produtores que adotam práticas sustentáveis e sistemas para monitorar o impacto ambiental de insumos agrícolas.

Um debate com implicações políticas
A iniciativa também gerou um conflito político. O Uruguai se aproxima de um ano eleitoral , e a proposta foi interpretada como uma jogada estratégica da Frente Ampla para se diferenciar do partido governista e atrair eleitores com consciência ambiental.
O governo, liderado pelo Partido Nacional, expressou sua discordância com a medida, chamando-a de "contraproducente". O partido no poder argumenta que este não é o momento de introduzir novos impostos, especialmente porque o país tenta se recuperar do impacto econômico de eventos climáticos extremos e da desaceleração global.
O presidente Luis Lacalle Pou não confirmou se vetaria a lei caso ela fosse aprovada, mas membros de seu gabinete expressaram preferência por políticas de incentivo em vez de medidas punitivas.
Possíveis impactos econômicos e alternativas
Economistas estão divididos sobre os potenciais efeitos desse imposto. Alguns argumentam que ele poderia levar a uma queda na produtividade agrícola, especialmente se os produtores não tivessem alternativas viáveis aos agroquímicos. Outros acreditam que, se acompanhado de políticas de apoio à inovação e à transição ecológica, poderia até fortalecer a reputação do Uruguai como um produtor sustentável a longo prazo.
Alternativas ao imposto fixo também foram propostas. Alguns propõem um sistema escalonado que tributa os produtos de forma diferenciada com base em seu nível de toxicidade ou impacto ambiental. Outros sugerem a aplicação gradual do imposto, permitindo que os produtores se adaptem progressivamente.
Uma tendência regional
O debate no Uruguai não é isolado. Propostas semelhantes sobre o uso de agroquímicos foram discutidas em outros países latino-americanos, como Argentina, Brasil e Chile. Em muitos casos, a falta de regulamentação levou a sérios problemas ambientais, como poluição de rios e perda de biodiversidade.
Por esse motivo, a proposta uruguaia está sendo acompanhada de perto por outras nações da região. Se aprovada, poderá abrir um precedente e incentivar medidas semelhantes em países vizinhos, especialmente em contextos onde a pressão social por sustentabilidade é crescente.
Conclusão
O projeto de lei que estabelece um imposto sobre agrotóxicos no Uruguai gerou um profundo debate sobre o modelo de produção, o papel do Estado na regulação ambiental e o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Enquanto o setor agrícola teme um golpe em sua competitividade, setores ambientalistas e progressistas consideram a medida necessária para proteger os recursos naturais do país.
A discussão continua, e o resultado — seja o projeto de lei aprovado, modificado ou rejeitado — definirá um roteiro para o futuro da política agrícola no Uruguai. Além do resultado imediato, o fato é que a sustentabilidade ambiental se tornou uma questão central na agenda pública do país.