Eutanásia no Uruguai: o apelo comovente de uma mãe para que seu filho possa escolher

por 18 de agosto de 2025

O debate sobre a eutanásia no Uruguai teve um capítulo histórico na Câmara dos Deputados, onde o projeto de lei conhecido como "morte digna" obteve aprovação preliminar após uma longa sessão que se estendeu até a madrugada de quarta-feira, 13. A discussão não se limitou a tecnicalidades jurídicas ou argumentos médicos: foi permeada por depoimentos de pacientes e familiares que deram nomes e rostos ao sofrimento por trás da lei.

O representante da Frente Ampla, Luis Gallo, médico de profissão, abriu a sessão com um discurso emocionado. Ele lembrou Pablo Salgueiro e Fernando Sureda, ambos falecidos após sofrerem de doenças que causavam dores intensas, sem possibilidade de eutanásia. "Vamos honrar a memória deles com a aprovação desta lei", implorou, com a voz embargada.

Gallo também discutiu a situação de Pablo Cánepa, um homem de 38 anos com ataxia cerebelar, uma doença rara e progressiva que o deixou imobilizado em apenas três anos. Sua mãe, Mónica, escreveu uma carta na qual deixou claro o desejo do filho: acabar com seu sofrimento. Ao destacar a importância dos cuidados paliativos, ela destacou que eles atingem seu limite quando a deterioração física e emocional é irreversível.

O projeto de lei "Morte com Dignidade", que regulamenta a eutanásia, foi aprovado pela Câmara dos Deputados (@DiputadosUY).

A sessão também contou com o depoimento de Beatriz Gelós, uma professora de 71 anos que sofre de ELA há quase duas décadas. Incapaz de realizar atividades cotidianas como tomar banho sozinha ou segurar os netos no colo, Gelós expressou seu desejo por uma lei que lhe permitisse decidir quando interromper o que descreveu como uma "provação progressiva". Presente nas eleições parlamentares, ela foi uma das vozes mais ressonantes na Câmara.

A presença de familiares também proporcionou um forte componente emocional. Florencia Salgueiro, filha de Pablo Salgueiro, relembrou o pai na rede social X, que morreu aos 57 anos de ELA. "Amanhã, a eutanásia será parcialmente sancionada, e poderei me lembrar dele com um pouco menos de dor pela injustiça que foi o fim de sua vida", escreveu ela antes da votação.

A família de Pablo Salgueiro, que morreu de ELA, está pressionando pela legalização da eutanásia no Uruguai (@fepreco).
A família de Pablo Salgueiro, que morreu de ELA, está pressionando pela legalização da eutanásia no Uruguai (@fepreco).

Os legisladores que apoiaram o projeto de lei sustentaram que o ponto central do debate é o reconhecimento do direito de cada pessoa de decidir sobre o fim de sua vida. Os opositores, no entanto, alertaram que a discussão não pode ser reduzida a "sofrer ou morrer" e questionaram a ideia de que existe o direito de decidir sobre a própria vida.

Com a aprovação preliminar da Câmara dos Deputados, o projeto de lei seguirá para o Senado, onde deverá receber a sanção final antes do final do ano. Se aprovado, o Uruguai se juntará ao pequeno grupo de países que regulamentaram a eutanásia como uma opção legal para pessoas com doenças graves e irreversíveis.

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