IVA Tema: Novo imposto aprovado para compras no exterior
Com o apoio da Frente Ampla e de dois representantes do Cabildo Abierto (Conselho Aberto), a Câmara dos Deputados aprovou o capítulo tributário do projeto de lei orçamentária, que inclui a criação do IVA Temu e um imposto mínimo global para multinacionais. A votação foi resolvida com 50 votos a favor, enquanto o Partido Nacional, o Partido Colorado e o representante do Partido Independente votaram contra.
O novo IVA do Temu visa tributar compras no varejo feitas no exterior sob o regime duty-free, um sistema que permite aos cidadãos comprar produtos fora do país isentos de impostos, até um determinado valor anual. Com essa modificação, o limite passa de US$ 600 para US$ 800 por ano, dividido em até três compras, embora também possa ser usado em uma única transação. Essa medida busca responder a um fenômeno crescente: o uso de plataformas estrangeiras como o Temu, uma plataforma chinesa que oferece produtos a preços baixos e sem impostos.
O imposto não se aplicará a compras feitas nos Estados Unidos, devido ao atual acordo comercial entre os dois países. Essa exceção foi destacada por diversos legisladores como uma forma de preservar compromissos internacionais sem afetar a finalidade principal do imposto.
Como o IVA Temu afeta o atual regime de franquias?
A iniciativa surgiu em resposta às reclamações de comerciantes uruguaios, que registraram queda nas vendas devido ao crescimento exponencial das compras digitais em plataformas estrangeiras. Segundo representantes do setor, a concorrência desleal gerada por produtos isentos de impostos afetou a lucratividade de muitos negócios locais, especialmente em setores como vestuário, tecnologia e utensílios domésticos.
O partido governista argumentou que o IVA Temu busca nivelar o campo de atuação comercial , protegendo as empresas uruguaias da expansão de plataformas digitais que operam no exterior. "Não se trata de coibir o consumo, mas sim de criar condições mais justas para quem paga impostos e gera no país", afirmaram parlamentares da Frente Ampla durante a sessão. Também foi enfatizado que o novo imposto não afetará quem faz compras ocasionais, mas sim visa regular um volume de consumo que tem crescido de forma constante nos últimos anos.
Por sua vez, a oposição questionou o aumento do valor permitido pela franquia, alertando que isso poderia facilitar a entrada de produtos mais caros que antes não eram adquiridos por esse meio. "Isso abre caminho para a importação de itens de maior valor, o que poderia agravar o impacto negativo no comércio local", disse um representante do Partido Nacional . Além disso, foi sugerido que o novo IVA Temu poderia gerar confusão entre os consumidores, especialmente em relação aos critérios de aplicação e às exceções atuais.
Além do IVA, foi aprovada a implementação de um imposto mínimo global de 15% para empresas multinacionais com filiais no Uruguai e com faturamento anual superior a US$ 750 milhões. A proposta estabelece que essas empresas pagarão impostos no país, e não apenas em suas sedes. O objetivo é impedir que grandes corporações operem no Uruguai sem contribuir proporcionalmente para o sistema tributário nacional, em linha com os acordos internacionais promovidos pela OCDE.
A oposição também criticou esse ponto, argumentando que poderia desestimular o investimento estrangeiro. "O Uruguai precisa atrair capital, não afugentá-lo com impostos inexistentes em outros países da região", disseram porta-vozes do Partido Colorado. Nesse sentido, alertaram que o imposto mínimo global poderia ter um efeito adverso em setores estratégicos como tecnologia, logística e serviços financeiros.
O Conselho Aberto, que apoiou ambos os artigos, condicionou sua votação à inclusão de realocações orçamentárias para aumentar os salários das Forças Armadas e alocar mais verbas para a saúde militar. Essa negociação foi fundamental para desbloquear o capítulo tributário do orçamento, que havia gerado tensões nas semanas anteriores.
O debate parlamentar prossegue neste sábado, com a análise dos capítulos relativos à Presidência da República e ao Ministério do Interior . A expectativa é que o debate continue focado em temas sensíveis como segurança, gastos públicos e políticas sociais, em um contexto marcado pela necessidade de acertar contas sem afetar serviços essenciais.
Comércio local e plataformas estrangeiras: o papel do IVA Temu
Enquanto isso, os comerciantes locais permanecem vigilantes em relação às regulamentações do IVA Temu, que podem levar a uma mudança significativa no comportamento do consumidor. "Este aumento representa um alívio para muitas famílias que lutam para sobreviver, mas também precisamos de regras claras para competir em igualdade de condições", disse um representante da indústria têxtil. Em bairros como Centro, La Unión e Paso Molino, vários comerciantes notaram que o impacto das compras digitais tem sido fortemente sentido, especialmente em datas importantes como o Dia das Mães e as festas de fim de ano.
A implementação do IVA será monitorada pela Direção-Geral dos Impostos, que estabelecerá mecanismos de controle e fiscalização. Também está prevista uma campanha de informação para ajudar os consumidores a compreender o alcance do novo imposto e suas implicações práticas.
Fontes oficiais indicaram que o objetivo não é arrecadar impostos a qualquer custo, mas sim criar uma estrutura mais justa para o comércio interno. Nesse sentido, espera-se que o IVA Temu contribua para fortalecer a arrecadação de impostos sem afetar o bolso de quem faz compras razoáveis no exterior.