Projeto de lei sobre o Comissário para a Infância: Progresso institucional ou duplicação de funções?
A proposta de criação de um comissário parlamentar para a infância no Uruguai , promovida pela senadora Blanca Rodríguez, do partido Frente Ampla, gerou intenso debate na Comissão de População, Desenvolvimento e Inclusão. O que parecia uma iniciativa voltada para o fortalecimento institucional dos direitos da criança se transformou em um choque de posições entre dois atores-chave: o UNICEF e o Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDDHH).
Introdução ao projeto de lei
O projeto de lei foi apresentado em junho de 2025 por um grupo de senadores da Frente Ampla, buscando a criação de um cargo parlamentar especializado em monitorar os direitos da criança e do adolescente. De acordo com a exposição de motivos, o conselheiro seria responsável por assessorar o Poder Legislativo na fiscalização do cumprimento das normas relativas à infância.
A proposta faz parte de uma preocupação crescente com a pobreza infantil, a violência estrutural e a falta de supervisão institucional de políticas públicas voltadas para menores.
Posição da UNICEF: apoio técnico e conceitual
Durante sua audiência perante a comissão, o UNICEF afirmou que a criação de um órgão independente com um mandato específico seria "um avanço institucional fundamental" e um "sinal claro" do compromisso do governo uruguaio com as crianças. Embora tenha esclarecido que não tinha opinião sobre o modelo de governança proposto, apoiou a ideia de estabelecer um mecanismo especializado.
Em carta posterior, o representante do UNICEF no Uruguai, Francisco Benavidez, reafirmou essa posição e questionou a interpretação de suas declarações pelo INDDHH. Segundo Benavidez, a instituição nacional fez "referências incorretas" e "interpretou mal" o que o UNICEF havia declarado.

Críticas ao INDDHH: sobreposição institucional
O INDDHH, por sua vez, se opôs ao projeto de lei. Em sua intervenção de 1º de outubro, o Diretor Juan Miguel Petit — ex-comissário parlamentar de prisões — argumentou que já existe uma instituição com o mandato de salvaguardar os direitos humanos, incluindo os das crianças. A criação de um comissário específico implicaria, segundo Petit, uma sobreposição de recursos, funções e públicos-alvo.
A presidente Mariana Mota e a diretora Jimena Fernández Bonelli concordaram que a declaração do UNICEF estava "equivocada" e sugeriram que os legisladores consultassem diretamente Luis Pedernera, ex-presidente do Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança .
O papel do Comité dos Direitos da Criança
Um dos pontos mais controversos foi a interpretação do mandato do Comitê dos Direitos da Criança. O INDDHH sustentou que o comitê não recomenda a criação de comissários parlamentares, mas sim de instituições autônomas de direitos humanos, em conformidade com os Princípios de Paris.
O UNICEF, no entanto, esclareceu que nunca declarou que o comitê exigia tal posição e que seu apoio ao projeto se baseava em critérios de especialização, eficiência e independência institucional.
Reações parlamentares e próximos passos
A comissão parlamentar continua a analisar o projeto de lei , agora com maior atenção às suas implicações institucionais. Alguns legisladores acreditam que o cargo do comissário poderia complementar o trabalho do INDDHH, enquanto outros temem que ele possa criar uma estrutura paralela sem coordenação eficaz.
O debate também se moveu para a esfera pública, com organizações sociais, acadêmicos e especialistas em direitos humanos avaliando a relevância da proposta.
Análise institucional: Esse número é necessário?
Do ponto de vista técnico, a criação de um comissário parlamentar para a infância poderia fortalecer a supervisão legislativa sobre políticas públicas voltadas para menores. No entanto, sua implementação exige clareza no desenho institucional, coordenação com as agências existentes e garantias de independência.
O segredo é evitar duplicação e garantir que qualquer nova figura adicione recursos sem reduzir a eficiência do sistema atual.
Conclusão: Como priorizar as crianças sem duplicar esforços?
O debate sobre o comissário para a infância levanta uma questão fundamental: como o Estado uruguaio pode fortalecer a proteção dos direitos das crianças e adolescentes sem criar estruturas redundantes?
A resposta não está em uma única figura, mas em uma arquitetura institucional coerente, especializada e articulada. Você acha que o Uruguai precisa de um comissário parlamentar para a infância ou deveria fortalecer as instituições existentes?