Ciência.-A faísca que desencadeia as ondas de calor marinhas do Mediterrâneo

por 14 de agosto de 2025

MADRI, 14 (EUROPA PRESS)

As intrusões de ar quente do continente africano na Europa têm um impacto muito maior do que simplesmente aumentar a temperatura do ar nas ondas de calor marinhas no Mediterrâneo.

Esta é a conclusão de um novo estudo, liderado pela Fundação CMCC – Centro Euro-Mediterrânico sobre Mudanças Climáticas, após analisar centenas de ondas de calor marinhas identificadas na região usando dados avançados de satélite e análise de agrupamento. Os resultados foram publicados na Nature Geoscience.

O Mar Mediterrâneo é particularmente suscetível a ondas de calor marinhas, como a onda de calor recorde de 2022, caracterizada por temperaturas anormalmente altas da superfície do mar devido à interação entre os fluxos de calor ar-mar e os processos oceanográficos locais, resultando em impactos significativos nos ecossistemas marinhos e nas comunidades costeiras.

PERSISTÊNCIA

Embora as cristas subtropicais — que trazem o ar quente africano — ocorram com frequência no verão, aproximadamente a cada dois dias, sua persistência cria condições críticas para a formação de ondas de calor marinhas. Durante o início de uma onda de calor marinha, a formação de cristas torna-se persistente: o sistema de alta pressão associado a elas torna-se estacionário, interrompendo o movimento normal dos sistemas meteorológicos para o leste.

Quando essas cristas permanecem sobre a bacia do Mediterrâneo por cinco dias consecutivos ou mais, elas acalmam os ventos predominantes, fazendo com que o mar pare de liberar calor e as águas superficiais aqueçam rapidamente.

"Nosso estudo identifica as condições favoráveis ​​que levam às ondas de calor marinhas e revela que elas são causadas pela persistência de cristas subtropicais, que enfraquecem os ventos fortes na área", diz Ronan McAdam, pesquisador do CMCC e coautor do estudo.

Os resultados mostram que 63,3%, 46,4% e 41,3% das ondas de calor marinhas no Mediterrâneo ocidental, central e oriental, respectivamente, ocorrem durante períodos com cristas subtropicais e ventos reduzidos; uma concentração notável considerando que essas condições combinadas ocorrem apenas entre 8,6% e 14,6% de todos os dias de verão.

Quando as dorsais subtropicais persistem por vários dias, a consequente diminuição da velocidade do vento causa uma redução substancial na perda de calor do oceano para a atmosfera. Essa perda de calor é responsável por mais de 70% do fluxo total de calor nas regiões afetadas e impulsiona a maior parte da mudança de temperatura do oceano.

"É muito gratificante identificar a mecânica de um fenômeno que estudamos há anos", diz a autora principal Giulia Bonino.

Além disso, as taxas de probabilidade em três grupos do Mediterrâneo (26 eventos no Mediterrâneo Ocidental, 18 no Mediterrâneo Central e 14 no Mediterrâneo Oriental) revelam que, quando uma crista subtropical e ventos fracos se combinam, a probabilidade de formação de uma onda de calor é de quatro a cinco vezes maior.

A descoberta dessa relação estatística estabelece as bases para sistemas de previsão mais precisos que podem ajudar a proteger ecossistemas marinhos vulneráveis ​​e indústrias dependentes de futuros eventos extremos. Por exemplo, no Golfo de Lions, as temperaturas subterrâneas aumentaram quase 7°C em apenas dois dias durante os eventos mais extremos, ilustrando a velocidade dramática com que as ondas de calor marinhas podem se desenvolver e a necessidade de previsões precisas e respostas eficazes.

"Esta foi uma excelente colaboração entre oceanógrafos e cientistas atmosféricos; a combinação de experiência e paixão é fundamental", afirma o coautor Ronan McAdam. Ao combinar as nuances da meteorologia com dados oceânicos de alta resolução, a equipe demonstra que os sistemas de alerta precoce podem ir além dos limites de temperatura para compreender a física que realmente desencadeia um evento.

Como os mares Mediterrâneos estão aquecendo a um ritmo mais rápido do que a média global, é essencial saber com precisão quando uma onda de calor marinha está prestes a atingir o Mediterrâneo. "Nosso trabalho destaca processos até então não identificados que são essenciais para representar com precisão as ondas de calor marinhas no Mediterrâneo", afirma McAdam. "Esses resultados são cruciais para aprimorar os sistemas de previsão e os modelos do sistema terrestre e representam um passo fundamental para estratégias eficazes de alerta precoce e mitigação na bacia."

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