O ex-presidente tentou pedir asilo político ao governo de Javier Milei.
Ele acusa o influente pastor evangélico Silas Malafaia de "participar intencionalmente de uma empreitada criminosa" com Bolsonaro, pai e filho.
MADRI, 21 (EUROPA PRESS)
A Polícia Federal brasileira acusou formalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, na quarta-feira de tentar obstruir a investigação do líder de extrema direita sobre um golpe de estado, incluindo acusações de coerção, ao financiar um complô para obstruir o caso dos Estados Unidos.
O órgão apresentou a denúncia em relatório entregue nesta quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF), após concluir a investigação sobre a atuação de Eduardo Bolsonaro em Washington para promover medidas retaliatórias contra o governo e o Judiciário brasileiros, segundo a Agência Brasil, processo aberto em maio a pedido do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
O ex-presidente, aliás, está em prisão domiciliar desde 4 de agosto por violar algumas das medidas cautelares impostas em razão do suposto financiamento de até dois milhões de reais (300 mil euros) para fazer campanha, por meio de seu filho, nos Estados Unidos, desde março, a favor de tarifas de 50% sobre importações brasileiras e sanções contra autoridades brasileiras, incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal e relator do caso, Alexandre de Moraes, em um momento em que o presidente Donald Trump demonstrou interesse incomum por sua situação jurídica.
A polícia brasileira também revelou que Jair Bolsonaro considerou pedir asilo político na Argentina, também liderada pelo líder de extrema direita Javier Milei, após encontrar um documento em seu telefone no qual ele alegava ser vítima de "perseguição em (seu) país de origem por motivos e crimes principalmente políticos".
Segundo as investigações, o documento de 33 páginas não estava assinado nem datado, embora estivesse armazenado no dispositivo do ex-presidente desde 2024, quando ele foi acusado de tentar um golpe contra o atual líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
A polícia indica que Jair Bolsonaro "tinha em seu poder documento que lhe permitiria fugir do Brasil para a Argentina, principalmente após a Polícia Federal instaurar inquérito para apurar a materialidade e a autoria dos crimes de atentado violento ao pudor por organização criminosa".
O juiz De Moraes, portanto, deu à defesa do ex-presidente um prazo de 48 horas para prestar explicações sobre o que ele considerou um "risco comprovado de fuga", além do "reiterado descumprimento das medidas cautelares impostas, (e) a reiteração de conduta ilegal" por parte do ex-presidente.
"As informações apuradas indicam, portanto, que o ex-presidente Jair Bolsonaro possuía em seu poder documento que lhe permitiria fugir do Brasil para a Argentina, especialmente após a Polícia Federal instaurar inquérito que apurou autoria material e criminal referente aos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito por organização criminosa."
Enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal ordenou na quarta-feira uma busca por Silas Malafaia, um pastor evangélico aliado de Bolsonaro e frequentador assíduo de passeatas pedindo sua anistia, citando "fortes evidências de sua participação na empreitada criminosa, intencionalmente e com unidade de propósito" de pai e filho Bolsonaro.
Os agentes apreenderam seu telefone e seu passaporte, proibindo-o de sair do país ou de manter contato com os réus ao chegar ao aeroporto do Rio de Janeiro em um voo proveniente de Lisboa.
O juiz De Moraes tomou essa decisão após a polícia incluir Malafaia no inquérito contra os Bolsonaro por obstrução de Justiça, acusando-o de ter participado "da definição de estratégias de coerção e disseminação de falsas narrativas, bem como da direção de ações coordenadas", segundo o jornal Folha de São Paulo. O objetivo desse "conhecido líder religioso", apontam os investigadores, era "coagir membros da cúpula do Judiciário para impedir qualquer atuação judicial no Supremo Tribunal Federal que se opusesse aos interesses ilícitos do grupo criminoso".