Berlim entende que o crime de genocídio não foi definido no início do século XX e que não tem efeito retroativo.
BERLIM, 16 (DPA/EP)
O governo alemão anunciou sua intenção de abordar crimes cometidos durante sua história colonial em países como Namíbia e Tanzânia, mas já declarou que não considera fornecer compensação financeira aos afetados, acreditando que esses crimes não eram abrangidos pelo direito internacional na época.
Para dar um exemplo no caso da Namíbia, tropas alemãs mataram cerca de 65.000 hererós e 10.000 namas entre 1904 e 1908 durante uma revolta contra as autoridades coloniais, e milhares foram internados em campos de concentração durante o que é considerado o primeiro genocídio do século XX.
Em 2021, as autoridades namibianas aceitaram uma compensação alemã focada em projetos de reforma agrária, emprego e educação no valor de cerca de € 1,1 bilhão nos próximos 30 anos, mas nenhum dinheiro foi desembolsado ainda, pois as negociações sobre a implementação desses programas não foram concluídas.
Agora, em resposta a uma pergunta parlamentar do Partido Verde, a coalizão liderada pelo chanceler Friedrich Merz prometeu "resolver as injustiças cometidas sob o domínio colonial alemão", embora a compensação financeira esteja fora de questão porque, de acordo com o governo, "o conceito de reparação no direito internacional surge da violação de uma obrigação internacional", que não existia na época em que as injustiças foram cometidas.
Em outras palavras, na época em que esses crimes foram cometidos, o conceito de genocídio não existia. Foi estabelecido como crime por uma convenção da Assembleia Geral da ONU em 1948. Como o governo alemão acredita que não há efeito retroativo, não há razão para indenizar esses países.
A deputada do Partido Verde Claudia Roth, que apresentou o pedido juntamente com seus colegas de partido Awet Tesfaiesus e Jamila Schäfer, criticou a posição do governo alemão. "Lembrar as injustiças cometidas pela Alemanha é um pré-requisito para uma cooperação duradoura com os países afetados pelo colonialismo", afirmou, "e isso requer empatia, não uma recusa legal formal".
Em comentários ao jornal Tagesspiegel, Tesfaiesus também denunciou a atitude de Berlim. "Não podemos nos esconder atrás de argumentos jurídicos formais, especialmente em uma república cuja Constituição coloca a dignidade inviolável da pessoa humana no cerne de sua condição de Estado", declarou.